Ele puxou a cadeira e
sentou de frente pra ela, pra que pudesse ver que ele dizia a verdade. Então
começou:
-Eu fui transformado
em... Vampiro aos dezesseis anos por meu tio.
-Dezesseis? – ela
perguntou –, mas você está no último ano, e aparenta ter dezessete ou dezoito.
-Eu nunca gostei de ser o
que sou – ele começou –, então passei muitos anos procurando por uma cura, até
o dia em que conheci uma bruxa, elas não gostam de vampiros, mas esta era
diferente, ela sabia que eu queria mudar, e prometeu me ajudar. Nós passamos
muito tempo juntos, procurando por feitiços e poções, ou qualquer coisa que
pudesse me mudar. Um dia eu percebi que ela estava apaixonada por mim.
Elizabeth se sentiu mal
por ouvir isso, porque Kyle falava de uma forma como um viúvo conta a história
de sua amada mulher, e naquele momento, a cada vez que ele dizia mais uma
palavra, mais ela o desejava.
-Eu também gostava dela,
mas apenas como uma amiga – ele continuou, e ela se sentiu melhor por ouvir
isso – então decidi me afastar, pra não parecer que eu a estava usando. Mas ela
estava decidida a me dar a cura, e achou um feitiço, porém havia uma regra para
que o feitiço fosse concluído: uma bruxa teria que morrer.
-E você a matou? –
Elizabeth perguntou.
-Não, bruxas são seres
imortais, somente as bruxas podem matar aqueles como elas; e ela decidiu fazer
o feitiço, tentar sem que ninguém morresse. E tentou, mas apenas conseguiu com
que eu pudesse sair ao sol sem me queimar.
-Então vocês desistiram?
-Eu desisti. Mas há uma
lei entre as bruxas, eles não podem se envolver com vampiros, ou serão mortas.
E ela foi descoberta, e morta com o feitiço que me cobria sobre suas mãos, o
sacrifício foi feito.
-Então o que deu errado?
– ela perguntou já imaginando um erro, já que presenciara uma coisa nada humana
acontecendo com ele.
-Eu achei que tinha dado
certo, mas quando revirei os livros dela vi que o feitiço que ela tinha feito
era diferente, o sacrifício deveria ser por vontade própria daquele que
morreria, então apenas metade se cumpriu. Eu sou capaz de envelhecer e de sair
ao sol, mas ainda tenho sede por sangue. E se eu provar muito sangue o feitiço
se quebrara, e eu voltarei a forma em que fui transformado.
-Você nunca toma sangue?
– ela perguntou.
-Apenas uma gota de
sangue de animal uma vez por semana, para que meu corpo na resseque.
Ela não disse mais nada,
sentia pena e ao mesmo tempo o admirava por ser tão forte. Eles terminaram de
arrumar os livros, e se sentaram no chão próximo a uma estante conversando,
Elizabeth se sentia feliz por ter alguém pra conversar que pensasse do mesmo
modo que ela, Kyle se sentia maravilhado por finalmente ter se aberto com
alguém.
-Então seus pais não
sabem o que você é? – ela perguntou.
-As pessoas com quem eu
moro não são meus pais de verdade – ele respondeu, falando devagar – eu os
hipnotizei para pensar que era, é fácil fazer isso quando as pessoas não têm
família ou amigos.
De repente Kyle ouviu um
som estranho, algo que o deixou intrigado, se levantou e olhou pela janela, e
se assustou ao ver que já estava escuro lá fora.
-O que aconteceu? –
Elizabeth perguntou se levantando também.
-Por favor, não me diga
que hoje é dia de lua cheia – ele disse.
-Eu posso até não dizer,
Kyle, mas hoje é lua cheia. Qual é o problema?
-A lua cheia é o dia em
que os vampiros mais sentem sede. Eu consigo me controlar, mas um vampiro que
não toma sangue humano é motivo de chacota entre os demais.
-Ta, mas por que você
ficou desse jeito de repente?
-Porque todos conhecem
minha história, e todo mês na lua cheia meus primos vem com seus amigos pra me
encher com suas brincadeirinhas. Eu deveria estar na floresta agora.
-Mas como eles vão achar
você aqui? – ela ficou aflita de repente.
-Nós somos parentes,
sangue do mesmo sangue e eles podem me sentir. Assim como sinto que eles estão
aqui.
Kyle segurou a mão de
Elizabeth e saiu correndo da sala.
-Precisamos achar o Sr.
Hompkins. Tirar vocês dois daqui.
Eles chegaram a sala dos
professores, mas o professoe de história não estava lá, não havia mais ninguém
na escola. De repente Kyle ouviu passos atrás de si, e sentiu. Eles estavam lá.
Seus primos.
-Meu caro amigo, Kyle –
alguém disse atrás deles, quando se viraram Kyle o reconheceu – não me diga que
decidiu se alimentar de sangue humano agora?
-Vocês não conseguem
viver sem mim não é, Christian? – Kyle disse tentado adotar um tom irônico, mas
não conseguiu.
Tão rápido quanto pode
perceber, Kyle viu que os outros que estavam com Christian se aproximaram; eram
cinco no total contando com seu outro primo, Rafael.
-Assim é família, meu
caro priminho – disse Rafael –, então vai nos dar um dela? Tem um cheiro
maravilhoso.
Eles caminharam em
direção a Elizabeth, mas Kyle entrou em sua frente e correu indo em direção aos
outros cinco vampiros. Apesar de não tomar sangue o suficiente para ter uma
força extraordinária, Kyle sentia raiva, bastante raiva; e aquilo foi o
suficiente pra que ele pudesse jogar um dos vampiros contra a parede do
corredor, e então logo após outro. Rafael veio em sua direção e o jogou com
toda força que tinha contra o chão. Kyle se virou para poder levantar e viu que
havia um esfregão dentro de um balde a sua frente, ele se levantou, agarrou o
esfregão e o quebrou em dois. Fazendo duas estacas.
Um dos vampiros veio em sua direção, e ele não
exitou e enfiou a estaca no peito dele, seu corpo ficou roxo e sua face se
encheu de veias, como se sangue pulsasse, tentando sair de seu corpo.
Então Rafael veio em sua
direção, e se lançou sobre seu corpo, Kyle agarrou seu pescoço e o jogou contra
o chão, o deixando de joelhos, e apontou a estaca pra ele.
-Vocês vão me deixar em
paz, ou eu vou ter que mata-lo? – Kyle disse para Christian.
-Nós vamos embora – ele
respondeu se rendendo, então Kyle soltou seu irmão.
Rafael correu e ficou do lado do irmão, um dos
vampiros se abaixou e pegou o corpo do outro vampiro no colo.
De repente um homem
gordo, usando macacão cinza apareceu no corredor, era o zelador. Christian foi
até ele e o segurou, expondo seus grandes caninos, Elizabeth teve vontade de
gritar quando percebeu o que ele iria fazer.
-Quero você conseguir se
segurar agora? – ele disse se referindo a Kyle.
Os grandes caninos de
Christian perfuraram o pescoço do zelador e ele soltou um pequeno grito, então
o vampiro o jogou no chão, e sumiu junto com os outros.
O sangue jorrava do
pescoço do homem e foi impossível para Kyle se segurar. Ele se jogou sobre o
homem e bebeu seu sangue com toda vontade que sentia dentro de si, o sangue
desci por sua garganta matando sua sede e lhe fazendo bem.
-Kyle? – Elizabeth o
chamou.
Kyle se segurou e se
jogou contra a parede, saindo de perto do corpo, que já estava quase vazio.
Elizabeth andou devagar e foi em direção a ele.
-Deixe-me te ver – ela
disse.
-Não, eu sou um monstro.
-Não, você não é, Kyle.
Você me salvou!
Ele colocou a mão em seu
rosto, e o puxou – devagar – para que pudesse olhá-lo; ele se virou. Seus olhos
estavam negros e pequenas veias se destacavam em volta deles, ela viu seus
caninos expostos. E o achou belo por isso.
Kyle virou o rosto
novamente e balançou a cabeça, fazendo com que tudo voltasse ao normal, ele
andou saindo do escuro e Elizabeth pode observar que ele mudara, estava mais
novo, mais vivo. Sua pele parecia brilhar, e apenas olhando ela sabia que era
macia.
-Agora o feitiço se
quebrou? – ela perguntou.
-Sim – ele disse um pouco
triste.
-Talvez você possa
encontrar outra bruxa – ela se aproximou dele.
-Bruxas odeiam
vampiros... – Ele não completou, ela estava tão perto que seu cheiro chegava
facilmente a suas narinas.
Kyle não se segurou, e a
beijou. Os lábios dela eram tão macios que a cada segundo ele sentia mais
vontade de beijá-la, mais vontade de tê-la perto de si.
Ela tirou seus lábios de
perto dos dele, e suas testas se tocaram.
-Acho melhor ir ver se
eles fizeram alguma coisa a Richard – ela disse, e ele assentiu com a cabeça.
Depois que ela saiu ele
pegou o corpo do zelador e jogou por cima de seu ombro direito, logo então ela
veio com um pequeno pedaço de papel em sua mão.
-Ele teve de ir embora
sem avisar, alguma coisa com a família.
-Bom, melhor pra gente.
Ele segurou a mão direita
dela, e eles foram em direção a saída da escola.
-E agora? O que vai
acontecer? – ela perguntou.
-Agora ficaremos juntos –
ele disse – se for o que você quer.
Ela parou por um momento,
anestesiada com o fato dele querer ficar com ela, assim como ela o desejava.
-Sim, é o que eu quero –
ela disse finalmente, chegando mais pra perto dele, sem se importar que ele
carregava um cadáver no outro ombro.
Continua[...]
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