O último dia

A detetive Helena Caulins arrumava seu cabelo loiro olhando o retrovisor de seu carro enquanto esperava no farol. Mesmo ainda sendo de manhã estava tanto calor que ela havia ligado o ar-condicionado de seu carro no último volume. Helena estava um pouco mal-humorada pelo fato do delegado ter ligado duas horas antes de seu horário normal de entrada na delegacia, ele havia dito que todos os detetives do departamento de desaparecidos estavam ocupados, e que precisariam que ela fosse pra lá o mais rápido possível. Ela havia saído tão depressa que só havia tido tempo de escovar os dentes e trocar de roupa.
            De repente o sinal abriu e Helena arrancou com o carro, ela tirou a mão direita do volante e ligou o rádio, fazendo com que a voz grave do locutor do rádio invadisse o carro dizendo:
“Já passam de 100 o número de pessoas desaparecidos somente no lado leste da cidade. O delegado do 23° departamento de policia não quis se pronuncia ainda sobre os desaparecimentos que estão ocorrendo em todo o mundo...”.
            Helena mudou de estação, já cansada de ouvir sobre os desaparecimentos, mas em todas só se falava sobre o mesmo assunto, então ela decidiu desligar o rádio. Cinco minutos depois ela estacionou o carro na frente do 23° Departamento de Policia.
            Ela entrou na delegacia e tomou um susto ao ver que o local estava cheio de pessoas reclamando com os policiais. O som de quase sessenta pessoas falando ao mesmo tempo, em um lugar tão pequeno não era dos mais agradáveis.
            -Detetive Caulins! – Um dos policias atravessou a “multidão” e veio na direção de Helena ao ver que ela havia chegado. – Ainda bem que você chegou, o nosso ilustre delegado designou um caso pra você: o desaparecimento de uma menina de dezessete anos da sua própria casa esta noite.
            O policial entregou uma pasta para Caulins e ela foi para sua mesa, ao chegar lá viu que  um garoto de mais ou menos vinte e cinco anos de idade estava sentado na cadeira que ficava na frente de seu espaço de trabalho.
            -Então a garota desaparecida, hã... Jenny Silst é sua irmã? – Helena perguntou ao garoto se sentando na cadeira ao centro de sua mesa e olhando fixamente pra ele.
            -Sim, eu sou irmão dela – o garoto parecia assustado, com medo do que poderia ter acontecido a irmã – nossos pais morreram em um acidente de carro há cinco anos, e desde então Jenny mora comigo.
            -Então senhor Silst...
            -Mike Silst – ela o interrompeu.
            -Ta bom. Você acha que alguém que não goste da sua irmã poderia ter feito alguma coisa com ela? Ou então se ela pode ter fugido durante a noite com algum namorado?
            -Não, não! Jenny era uma garota boa, estava sempre ajudando as pessoas, e participando de ações comunitárias. E Jenny não pensava em namorar, eu sei disso porque conversávamos sobre isso; e também nada dela sumiu, nem uma peça de roupa.
            A detetive Caulins parou por um momento examinando as informações que haviam sido coletadas de Mike sobre sua irmã como: data de nascimento, escola em que estudava e mais coisas que não ajudariam em nada na investigação como nome de melhores amigas.
            -Tudo bem Sr.Silst, será que você poderia me levar até a sua casa para ver o quarto da sua irmã e suas outras coisas?
            -Sim... Quer dizer, claro que sim.
            Helena o levou até o seu carro e os dois entraram, ele a disse o caminho para sua casa, que na verdade ficava bem perto da delegacia, há umas duas quadras dali. Dez minutos depois eles chegaram a casa e Helena parou por um momento admirando a bela casa de Mike Silt. Era uma casa toda construída de madeira, e pintada de um verde bem claro, tinha dois andares, era um tipo de casa em que só se via em filmes.
            Assim que entraram na casa Mike a levou até o quarto da irmã e Helena começou a olhar tudo.
            -Tudo está assim como você encontrou? – Ela perguntou andando pelo quarto.
            -Sim, eu apenas olhei as coisas de valor que ela tinha, pra ter certeza de que não havia sido um roubo que não deu certo. – Parecia que ele iria começar a chorar, mas se conteve.
            Helena olhou a cama, estava arrumada, como se alguém estivesse se preparando pra dormir.
            -Existe alguma outra pessoa que você conheça que sua irmã procuraria se tivesse problema?
            -Sim, tem um tio nosso que é padre, Jenny passava muito tempo com ele. Se quiser posso te levar até ele.
            Ela balançou a cabeça em sentido afirmativo.
            Mike a levou até a grande igreja da cidade, que ficava há poucos metros de sua casa, então eles foram andando. Durante a caminhada ele falava sobre como sua irmã era bondosa e sempre pensava em ajudar as pessoas, e como ele ficava triste por não ter tempo em participar de suas obras comunitárias.
            Eles passaram pela igreja e pela sacristia, e então atravessaram um pequeno jardim que ficava nos fundos da igreja e chegaram em uma pequena casinha feita de madeira e com a tinta branca desbotando. Mike bateu três vezes na porta e um senhor usando roupas pretas, com uma pequena faixa branca na gola abriu a porta.
            -Tio... Eu fui até a delegacia, eles precisam encontrar a Jenny – Mike Silst falou com o padre. – Essa é a detetive Caulins.
            -Não adianta, Mike – ele disse enquanto abria a porta para que eles entrassem – você não quis me ouvir pelo telefone, mas eu vou falar de novo: Tudo começou.
            Mike se sentou em uma cadeira que ficava junto a uma mesa. A porta por onde eles entraram deveria ser o fundo da casa, pois eles haviam entrado na cozinha.
            -O que começou? – Helena perguntou olhando pela janela da cozinha, que dava para a direção do litoral.
            -O arrebatamento, detetive. Todas essas pessoas, que assim como minha sobrinha tinham a alma generosa, e acreditavam na salvação vinda do amor de Cristo, desaparecendo... Isso só pode significar que elas ganharam o direito de não viver o grande caos.
            -Se essa história de arrebatamento é real, então por que você não foi escolhido, padre?
            -Não é apenas uma questão de escolher o lado do bem detetive Caulins. É preciso ter o dom do bem. Talvez, mesmo tendo cedido minha vida ao Senhor, eu não mereça não viver o grande caos.
            -O grande...?
            Helena parou. De repente um grande tremor atravessou a casa, ela olhou pela janela da cozinha e viu que alguns prédios se partiam ao meio próximo a praia. Então uma grande rocha começou a surgir da areia, olhando bem melhor Helena viu que a partir da grande rocha – que a cada segundo crescia mais – se expelia lava, um grande mar de fogo agora começava a surgir do grande vulcão.
            -Hoje é o último dia do mundo como você conhece, senhorita Caulins – Helena se virou e olhou para o padre enquanto ele falava – hoje se começa o Apocalipse.
            Helena Caulins se virou olhando novamente para o grande vulcão, Mike Silst ficou ao seu lado e os dois arregalaram os olhos quando viram um grande dragão vermelhando em chamas sair voando do vulcão e começando a cuspir fogo por toda a cidade.
            Helena gritou de medo, e agradeceu em silêncio por não ter família pra ver aquilo.  

  


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