Mad estava com a cabeça abaixada sobre a pia do banheiro
lavando o rosto, ela havia passado pra conversar com seu irmão e nem havia percebido
que o tempo havia passado – quando ela havia chegado o sol estava em seu ponto
mais alto do céu, e agora já estava completamente escuro lá fora.
Ela levantou o
rosto e se olhou no pequeno espelho que havia lá, então pegou a toalha que
ficava pendurada ao lado e passou no rosto. Quando Mad tirou a toalha da frente
do rosto tomou um susto com a imagem de seu irmão no espelho.
-Mike! Você me
assustou – ela disse indo até ele e lidando um tapa no braço.
-Essa era a intenção
– Mike respondeu rindo.
Ele levou a irmã até
a porta da casa, se despediu e fechou a porta assim que ela partiu. Mike havia
feito aquela brincadeira com Mad, mas era ele mesmo quem tinha medo de
espelhos; os médicos chamavam de Eisoptrofobia – o medo do sobrenatural que
possa haver em espelhos. Por esse motivo ele havia colocado vários espelhos
espalhados por toda a casa, “Uma forma de vencer o medo” ele vivia repetindo
pra si mesmo. Mas Mike não achava que isso fosse funcionar – apesar de dizer o
contrario para seus familiares –, ele sabia que havia alguma coisa lá,
esperando por ele, e por esse motivo sua irmã sempre o visitara, todos os dias.
E ele sempre se encarregava de que ela ficasse um tempo bastante longo. Longo o
bastante dele se esquecer de seu medo – apenas por algumas horas, é claro.
Mike subiu pela
escada indo em direção ao seu quarto com a cabeça baixa para não olhar para os
espelhos que haviam pelo caminho. Ele ainda se lembrava da vez em que ele havia
visto um demônio sendo refletido em um, na época ele ainda morava com seus
pais.
Ele entrou no
quarto, tirou sua roupa e vestiu uma calça de moletom cinza e foi em direção ao
banheiro. Quando Mike passou pelo espelho que ficava próximo a porta do
banheiro ele viu que seu reflexo não se moveu junto com ele, apenas ficou
parado, o olhando. Mike criou forças e voltou para ver. Quando ele parou em
frente ao espelho seu reflexo estava como ele, com a mesma expressão e posição –
reto com os braços cruzados sobre o peito –, mas de repente seu reflexo se
moveu, descruzou os braços e os encostou junto ao corpo, e piscou para Mike.
-Ahhh! – Mike gritou
quando viu o que acontecera – não é verdade, não é verdade! – Ele repetiu em
voz alta piscando e esfregando os olhos com as mãos.
-Sim, é verdade –
seu outro eu disse saindo do espelho e indo em direção a ele.
-Saia daqui – Mike gritou
indo em direção ao reflexo e o segurando com os braços, o empurrando para trás,
para o espelho.
O reflexo nada
respondeu, começou a lutar com Mike, como se quisesse se defender. Ele virou
Mike contra o espelho e o empurrou; o cotovelo de Mike bateu contra o espelho e
uma pequena parte do canto superior se quebrou e caiu contra o carpete. Mike
empurrou seu reflexo e agarrou a parte do espelho que se soltara, ela era
triangular e pontiaguda, e facilmente poderia feri-lo.
O eu reflexivo
andou indo de lado, como se quisesse se defender da “arma” que Mike se segurou
e ficou com as costas viradas para o espelho. Mike reuniu suas forças e correu
em direção ao reflexo. E quando estava perto o bastante perfurou o pedaço de
espelho contra seu peito...
Naquele mesmo
momento Mike sentiu uma dor dilacerante cortando seu peito, ele abaixou a
cabeça e viu que o pedaço pontiagudo do espelho estava cravado em seu peito,
ele puxou o objeto do corte e olhou pra frente, para o espelho vira que seu
outro eu não estava mais lá, agora era apenas seu reflexo no espelho, agindo
assim como ele agia. Mike olhou para suas mãos e viu que elas estavam cobertas
de sangue, porque ele mesmo havia se ferido. O sangue jorrava do seu peito e
ele começava a se sentir fraco. Como se soubesse que sua vida se esvaia. Ele
caiu de joelhos, e logo após seu corpo caiu contra o chão, seu rosto ficou
virado contra o espelho e ele viu seu reflexo caído assim como ele, mas aquele
corpo que se refletiu no espelho piscou para o verdadeiro Mike, dando um
sorriso e voltando a refletir como deveria sempre fazer.
-Eu disse... Eu
disse – Mike falou soluçando em seus últimos momentos de vida. Ainda crente que tudo era
real.
E talvez fosse.
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