Tempos Passados
I
Phill já estava
ficando cansado de ficar ali, do lado de fora do celeiro, ele observava tudo
que acontecia lá dentro por uma fresta na madeira, que mais parecia um buraco.
Baltazar, o líder dos lagartons conversava com o Herdeiro dos herdeiros, Phill
se espantou com ele, “como o herdeiro dos
herdeiros podia ser aquele garoto?”, ele pensou. Phill parou de olhar o que
acontecia e se sentou no chão, suas pernas doíam, e mechas loiras de seus
cabelos grudavam em sua testa por causa do suor, ele levantou a blusa e olhou
para sua barriga, já fazia um tempo – pouco tempo – que ele havia parado de
malhar para ajudar sua irmã, e os “gominhos” que havia em sua barriga estava
começando a sumir, mas os seus braços continuavam como sempre: largos e fortes,
algo que fizesse as pessoas pensarem duas vezes – ou nem pensassem – em arrumar
briga com ele. Mas ele não podia voltar a malhar, pelo menos não agora, ele
precisava ajudar sua irmã, ele precisava ter poder novamente, precisava ser
forte, mais do que músculos, ele queria ser superior.
II
Phill se levantou e
observou toda a luta, vampiros e lobisomens arrancavam a cabeça dos lagartons
sem nem mesmo dar chance a eles, apenas um lobisomem havia morrido, ele havia
sido atacado de surpresa, mas mesmo antes de morrer havia arrancado o braço do
seu oponente. Ao final da batalha o Herdeiro se aproximou de Baltazar e
arrancou sua cabeça, logo após não deu chance a mulher e a matou também. Phill
fechou os olhos por um momento, uma fração de segundo apenas, mas quando abriu
os olhos viu o Herdeiro voltando ao normal, ele já tinha ouvido falar que o
Herdeiro dos herdeiros era capaz de ser todos os seres sobrenaturais, mas ver
aquilo, com seus próprios olhos, o tinha deixado espantado.
Uma vampira, a
filha de Andrei – o Primogênito – jogou um pano por cima dos ombros do
Herdeiro, toda sua roupa havia se transformado em fiapos assim que ele havia se
transformado em lobisomem. O
Herdeiro se levantou e, com a rapidez que todo vampiro tinha,
saio do celeiro seguido pela vampira que lhe cobrira com o manto.
Alguns lobisomens foram
embora, poucos ficaram lá: um mais velho – que Phill sabia que era o líder da alcatéia
–, dois que ainda eram lobos e um que estava nu agachado sobre o corpo do
lobisomem que havia morrido, Phill olhou para aquele cara sem roupa e não pode
evitar uma leve excitação, ele se lembrou dos tempos em que ele junto com
alguns amigos – humanos- havia se reunido e feito uma farra, todos ficaram com
todos, sem exceção de sexo. Junto com os lobisomens estavam os três primogênitos:
Amélia, Jonas e Andrei. De repente o garoto que estava agachado se levantou sem
se preocupar com que olhassem para ele daquela forma – da forma que havia vindo
ao mundo – e disse:
-E agora, o que
fazemos?
O líder da alcatéia
– George era seu nome – olhou fixamente para o corpo no chão, e então olhou
novamente para o garoto e respondeu:
-Queime tudo.
E então George se
transformou em lobisomem novamente e deixou o pano que cobria seu corpo cair no
chão.
III
O fogo começava a
consumir todo o celeiro, Phill esperou até que todos que estavam lá fossem
embora, então deu um chute contra a tabua que estava em sua frente fazendo com
que ela caísse e então correu para dentro do local; ele retirou um saco do
bolso de trás da calça (era um desses sacos de cores horríveis que se usava em
lixeiras), e colocou a cabeça de Baltazar dentro. Phill não demorou dentro do
celeiro, ele saiu correndo de dentro do lugar com a cabeça do líder – ou ex-lider
– dos lagartons dentro do saco de lixo e então foi embora.
§§§
Phill passou
correndo pelo corredor subterrâneo do esconderijo de sua irmã, e de seus outro
irmãos; ele estava ansioso para entregar a irmã aquele “presente”, há muito
tempo ela esperava por aquilo, e finalmente teria.
-Irmã! – Phill disse
quando chegou a um escritório improvisado que sua irmã havia construído.
A mulher que estava
lá dentro olhava para um quadro mofado na parede, mas assim que Phill a chamara
ela se virou – a mulher era linda, realmente linda: sua pele era morena, não
muito clara, mas também não muito escuro, era o tom perfeito. Seus cabelos eram
negros e incrivelmente lisos, e ficavam mais belos ainda por causa de uma armação
feita com renda preta que ficava do lado de um coque alto. Ela segurava um pano
vermelho em suas mãos e olhava fixamente para ele, mas Então Phill disse:
-Irmã, eu consegui! –
ele havia dito de uma forma que não tinha como esconder sua felicidade.
Ela levantou o
rosto e olhou para ele, seus olhos eram incrivelmente verdes, não verdes como
uma pessoa qualquer, ou do modo que um escritor descreve em um livro de romance
meloso; os olhos dela eram verde-escuro e brilhante como uma decoração de
natal, sempre iluminados, parecia que havia magia neles, e de certa forma havia
sim.
-Você me fez muito
feliz hoje meu irmão – ela disse chegando mais pra perto de Phill, abraçando-o –
e agora não falta muito...
-A cabeça do
herdeiro dos vampiros e a do herdeiro dos lobisomens?! – disse Phill a
interrompendo, mas ela não demonstrou estar com raiva.
-Sim, Phill – ela disse
–, mas também iremos precisar de mais uma coisa: o sangue do Herdeiro dos
herdeiros, e vou precisar que você faça mais uma coisa pra mim.
Phill endireitou
sua postura, ele amava fazer as coisas por sua irmã, e ela sabia disso, e ele não
se importava por ela sempre abusar disto.
A mulher, a irmã de
Phill retirou a cabeça de Baltazar do saco plástico e olhou pra ela como se
fosse um troféu, colocou a cabeça encima de uma pequena mesa que havia no
local, chegou mais perto do irmão, segurou em sua nuca e disse:
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